Valter Jorge Schaffel

O Poeta da Saudade

Textos

O PRESENTE DE GREGO

     O nosso estágio na Usina de Furnas, em Minas Gerais, durou seis meses. Tínhamos as nossas folgas de fim de semana que tinham de ser preenchidas com algo. Os companheiros souberam que, alguns quilômetros dali, havia uma cachoeira que as pessoas da região desfrutavam e onde seria um bom lugar para nossa turma “curtir”. Muitas vezes íamos em grupo, mas esta história aconteceu na oportunidade em que fui sozinho. Sabia que muitos iriam, mas como estavam demorando muito resolvi ir antes.
     Como não existia transporte da Usina para esta cachoeira, dependíamos de carona de qualquer tipo.
     Chegando eu em uma estrada asfaltada esperei algum tempo para que aparecesse alguém. Eis que surge um caminhão ao longe. Fiz sinal e o mesmo parou. Disse eu ao motorista:
     - Tu me consegues uma carona até a cachoeira?
     - Sim, sobe aí atrás.
     Foi o que fiz. Cá entre nós, foi a pior carona que peguei naquela época. Ao subir na carroceria vi que a mesma estava repleta de lingotes de ferro. O pior é que os mesmos ainda estavam quentes, pois vinham de uma siderúrgica próxima. E agora, onde está o espaço para a carona?
     Bem, coloquei as duas mãos no travessão próximo à cabine e os dois pés na guarda lateral, fiquei de barriga para cima, numa posição muito desconfortável. O desconforto não parou aí. Começou a cair uma garoa, o que fazia levantar vapor daqueles lingotes quentes. Isto passou a esquentar meu traseiro, obrigando-me a ficar com os olhos arregalados pelo ineditismo da situação.
     Agüentei firme até chegar ao destino, quando então bati em cima da cabine para que ali eu descesse. Depois de todo aquele drama desci e ainda agradeci a carona.
     Aqueles companheiros a quem deixei, quando resolvi ir sozinho, chegaram algum tempo após e um deles me viu deitado em uma pequena caverna, na escarpa da cachoeira e disse:
     - Olha ali o Valter, só ele mesmo!
     Talvez se tivesse vindo com eles não teria passado por isto.
Esta é a história de quem poderia ter seu traseiro assado em um “verdadeiro presente de grego”.


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Valter Jorge Schaffel
Enviado por Valter Jorge Schaffel em 13/12/2006
Alterado em 08/01/2007


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